Começou o Outono e com ele vêm as tardes de chá, mantinhas axadrezadas e conversas deliciosas.

“Hoje veio cá lanchar” a D. Margarida Hintze, proprietária dos Chás Gorreana, a mais antiga, e atualmente única, plantação de chá da Europa.

O cultivo do chá Gorreana remonta a 1883, mantendo as tradições e qualidade orientais há já 5 gerações. Atualmente as plantações da Gorreana cobrem uma área de 32 hectares, tendo o seu chá  diversos destinos europeus como França, Alemanha e Itália, mas também os Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Angola e Japão.

Começamos a nossa conversa, com uma pergunta que me despertava muita curiosidade: De onde surgiu o nome Gorreana? Explicou-me a D. Margarida que “diz-se que, no local onde hoje em dia há a plantação de chá, havia um recinto onde os feirantes da ilha vinham vender os seus produtos. Uma das feirantes chama-se Ana e usava sempre um gorro. Um dia perdeu o dito gorro e o local ficou conhecido como o sitio do gorro da Ana, o que deu em Gorreana“. Histórias que vão ficando marcadas na memória de quem as conta e de quem as ouve, e nas quais gostamos de acreditar. E, acrescento mesmo, também elas contribuem para a mística da plantação de chá Gorreana.

Estas plantações, para além de envolvidas numa luxuriante paisagem (comum, aliás, a toda a ilha de São Miguel), são símbolo da qualidade e confiança que distinguem os Chás Gorreana. “A diferença está no tipo de terreno, no clima e na garantia de que não usamos nem pesticidas, nem herbicidas, nem fungicidas“, disse-me a D. Margarida. Efetivamente, as pragas normais da planta do chá (Camelia sinensis) não sobrevivem no clima da ilha, pelo que se dispensa o uso de quaisquer químicos nas plantações.  Se a isto juntarmos as características únicas do pH do solo, a brisa do mar que cai sobre as plantações e o recolhimento face à poluição industrial, temos a receita de sucesso para um chá orgânico e no expoente das suas características organoléticas. Foi ainda com grande surpresa que descobri que as cabras também são um recurso no combate às pragas, já que se alimentam das ervas ditas “daninhas”, mas não apreciam a folha de chá.

Mas se a Gorreana conta com uma envolvência de lendas e tradições, não é menos verdade que a evolução exija algumas adaptações. Como está a Gorreana a responder às novas demandas? Disse-me, então, D. Margarida que “a Gorreana tem acompanhado as mudanças com a compra de nova maquinaria (de empacotamento e também caldeiras) e ainda experimentando diferentes chás aromatizados com ervas aromáticas”.

Ter-me falado de novas combinações de sabores no chá, remeteu-me de imediato para outra questão. Será que a Gorreana notou alterações nos padrões de consumo de chá, ao longo dos anos?  “Claro que hoje em dia há uma enorme diferença no consumo do chá. Antes produzia-se chá verde em praticamente pouca quantidade. Com as descobertas científicas de que o chá verde contém mais antioxidantes do que o chá preto, hoje em dia produzimos chá verde em maiores quantidades. Também devido às propriedades medicinais do chá tem havido mais procura.” Atualmente as plantações transformam-se em cerca de 33 toneladas de chá por ano, nas variedades de preto e verde. O chá branco é produzido apenas mediante encomenda especial, tendo em conta que requer uma colheita manual e controlada.

Já no fim da nossa conversa, quis saber qual era, então, o chá preferido da D. Margarida. “O meu chá preferido é o Orange Pekoe, um chá preto feito a partir da primeira folha da planta (Camélia sinensis), por ser o mais aromático“. Porque é que se chama Orange se é preto? Porque era o preferido da casa real Holandesa, a casa de Orange.

Escusado será, então, contar-vos o que bebemos neste nosso lanche…um maravilhoso chá preto Orange Pekoe, que faz agora as delícias desta real família Alecrim!

Um enorme obrigada à D. Margarida e à Casa Gorreana!

Até ao próximo lanche!

Mãe Alecrim