Hoje na “A comida da minha avó” falamos com a Helena Trigueiro.

Helena Trigueiro é nutricionista, licenciada em Ciências da Nutrição e mestre Ciências do Consumo e Nutrição pela Universidade do Porto.

É também membro do NNEdPro Global Centre for Nutrition and Health e da Associação Ilumiano.

É nutricionista no Clube Náutico de Ponte de Lima,  e destaca-se na comunicação de ciência e a reflexão sobre questões relacionadas com política alimentar e alimentação como pedra basilar da sociedade.

A Helena é das que põe o dedo na ferida com a elegância e a justiça necessárias (e raras); das que, como eu, percebe e sente que a alimentação é muito mais do que nutrientes e que até é mais por isso que gosta de ser nutricionista. A Helena é Limiana, traz o Minho no coração e nas mais saborosas memórias e é com eles que faz Ponte para o mundo. Que é/será dela.

NA (Nutricionista Alecrim): Qual o prato que mais te lembra a tua infância?

HT (Helena Trigueiro): Os panados da minha Avó.

NA:Consegues identificar o porquê? Que memórias te traz? Há algum episódio que queiras partilhar connosco?

HT: Os panados são o petisco de eleição que a minha Avó faz para o lanche quando alguém a vai ajudar no campo. Estamos a falar de uma obra-de-arte: não são demasiado gordurosos, são fininhos como poucos, mas têm a espessura ideal para conservarem um exterior crocante e um interior saboroso. Eu costumava esperar que ela saísse da cozinha para surripiar um ou dois da travessa. Felizmente ainda o faço.

NA: Atualmente, quando comes esse prato, as memórias voltam ou não sabe tão bem como sabia (ou como ainda sabe na memória…)?

HT:Sim, mas só porque ainda tenho a sorte de comer os dela e de me sentir uma criança a fazê-lo. Quando deixar de ter essa sorte a minha resposta vai ser bastante diferente.

NA: Já cozinhaste esse prato ou não te atreves?

HT: Já. Em comparação ficam sempre..meh.

NA: A que cheira e sabe a tua infância? Que ingrediente, cor ou aroma te leva de volta à tua infância?

HT: A minha infância cheira à sopa da minha Mãe, a marmelada quente, a estrugido bem temperado, entre tantos outros exemplos. Sabe muito ao leite achocolatado escolar, às amoras apanhadas no caminho, e a couves bem cozidas com azeite. Tive a sorte de ter uma infância muito saborosa.

NA: Qual é o prato/ingrediente que associas de imediato aos teus avós? Porquê?

HT: Fora de casa da minha Avó dificilmente fico satisfeita com arroz de feijão. O arroz de feijão da minha avó tem as couves que ela semeou, colheu, lavou, cortou; as cebolas que ela entrançou e pendurou; e os feijões que ela escolheu e demolhou. Para além disso, até reaquecido no micro-ondas é bom, e isso é dizer muita coisa.

NA: O que é que aprendeste com “a comida da tua avó”?

HT: A minha Avó é um ser extraordinário que teve uma influência muito grande na minha relação com a alimentação, a nutrição, e a sua devida importância.
É uma pessoa que trabalha no campo desde os 6 anos (ou talvez mais cedo) pelo que conhece muito bem os ingredientes que põe na mesa, e sabe dar-lhes o devido valor. Isso espelhou-se inevitavelmente na comida dela e também na minha visão da comida, porque sempre soube que a receita não tinha começado na cozinha, tinha começado no campo. A minha Avó ensinou-me a gostar de comida, e isso não há nenhum artigo científico que faça.

Um enorme obrigada, Helena, por partilhares connosco estas memórias! Que desfolhar de páginas de memórias tão bonito!

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Nós, por aqui, prometemos continuar a partilhar memórias. E quanto a si? Qual é a comida da sua avó? 🙂